Preparar o Partido<br> para intervir mais e melhor
Toda a Organização Regional de Setúbal do PCP está neste momento envolvida na preparação da sua 6.ª Assembleia de Organização, que se realiza no próximo dia 15 de Março.
Jorge Pires, membro da Comissão Política do PCP, José Capucho e Manuela Pinto Ângelo, membros do Comité Central e da Direcção da Organização Regional de Setúbal, falaram ao Avante! sobre os objectivos da Assembleia e as prioridades de trabalho que ali irão ser propostas.
Desde a última Assembleia, realizada em Fevereiro de 1999, a região sofreu profundas mutações sócio-económicas. Desapareceram dezenas de empresas no sector da indústria transformadora, dando lugar a um sector terciário claramente dominante.
O desaparecimento de grandes concentrações de indústria em alguns concelhos - Seixal e Barreiro, Setúbal - levou ao desaparecimento também de grandes baluartes do Partido, diz Jorge Pires. Só a Quimigal, a Siderurgia, a Lisnave e a Setenave, por exemplo, organizavam então 5500 militantes. Entretanto, verificaram-se também vários actos eleitorais que introduziram alterações significativas na correlação de forças na Península de Setúbal.
Um dos objectivos da Assembleia é, pois, reforçar a organização do Partido de acordo com este novo quadro, prepará-lo para intervir mais e melhor, apresentar as propostas que o PCP tem para o desenvolvimento da região nas várias áreas, eleger uma nova direcção regional.
Manuela Pinto Ângelo reforça o facto de ser a partir do conhecimento da realidade da Península de Setúbal e das necessidades do Partido para responder aos problemas dos trabalhadores e das populações, que a organização definiu as suas prioridades de trabalho. O documento aponta, inclusive, objectivos quantificados para todas essas prioridades e, ainda, para a questão financeira e para as várias campanhas em curso no Partido: imprensa partidária, recrutamento, realização de assembleias.
A propósito do trabalho preparatório da Assembleia, José Capucho diz que assenta naquilo que são as características do funcionamento do Partido: procurar a intervenção e a participação do máximo de militantes e das suas organizações.
Uma imensa actividade
Assim, o documento hoje em discussão em toda a Organização Regional resulta já de um conjunto de opiniões e de sugestões, da experiência dos diversos sectores e organismos, e da própria discussão em torno da Conferência Nacional do Partido sobre o Poder Local.
Estão marcadas várias dezenas de reuniões e assembleias plenárias, outras foram já realizadas, mas todo este trabalho preparatório está enquadrado na imensa e intensa actividade que o Partido está a desenvolver, dele não se podendo desligar, sublinha José Capucho. Ou seja, ao mesmo tempo que se prepara a assembleia, se discute o documento e se elegem os delegados, o Partido está também empenhado nas grandes batalhas em defesa dos interesses dos trabalhadores, contra o pacote laboral, contra a guerra e pela paz.
Referindo-se à actual campanha de contacto com todos os membros do Partido, Manuela Pinto Ângelo diz, ainda, que a DORS está a organizá-la não apenas para actualização de ficheiros e um melhor conhecimento da situação de cada militante, mas fundamentalmente para chamar mais camaradas a uma actividade regular, a um enquadramento regular na vida do Partido.
A Organização tem um elevado núcleo activo - segundo o balanço que se apresenta, cerca de 21% dos membros da organização têm responsabilidades ou tarefas -, mas não está satisfeita. A campanha irá servir, assim, também alargar a constituição de organizações de base e, dessa forma, criar melhores condições para responder aos problemas dos trabalhadores e das populações.
Procurar as respostas adequadas
As alterações que a região sofreu do ponto de vista económico e social obriga a estrutura do Partido a adaptar-se a esta nova realidade.
Adaptar a estrutura à nova realidade não significa, porém, sublinha Jorge Pires, que ela deixe de ter como sua essência a questão fundamental anteriormente definida: a de corresponder a um Partido virado em primeiro lugar para os locais de trabalho, que dá particular importância às empresas do sector industrial onde está a classe operária - quer a classe operária tradicional quer a nova classe operária -, as grandes concentrações industriais.
É sobretudo a partir do núcleo central, que essas células constituem, e tendo em conta a realidade que toda a estruturação se faz. Hoje, por exemplo, os micro e pequenos empresários pelo papel cada vez mais importante que estão a assumir na região, sustentando claramente a sua economia, tanto do ponto de vista económico como da oferta de postos de trabalho, exigem do Partido uma atenção mais cuidada.
José Capucho lembra, por seu lado, a existência, ainda hoje, de um peso muito importante de unidades industriais na região - tirando o Parque da Autoeuropa, são só médias e pequenas empresas -, que tem levado à dispersão dos trabalhadores e exige também respostas orgânicas adequadas
E reforça a ideia de Jorge Pires: não é, de facto, uma alteração à estrutura que estamos a pensar fazer. Com base no conhecimento da realidade concreta, das alterações havidas nos últimos anos, das dificuldades e atrasos que nos indicam onde devemos fazer incidir o nosso trabalho, é que analisamos as respostas orgânicas a dar e os mecanismos a criar para responder às necessidades de melhoria do funcionamento do Partido e à sua maior intervenção.
Aliás, de alguma forma, o documento já faz a caracterização económica e social da região e adianta propostas para a intervenção e organização do Partido e para o que os comunistas entendem servir o desenvolvimento da região.
Manuela Pinto Ângelo complementa, lembrando que o reforço orgânico do Partido é colocado à cabeça das prioridades definidas, atribuindo, no seu âmbito, a prioridade às questões ligadas às empresas e aos locais de trabalho.
Considera também, como aliás Jorge Pires e José Capucho, que felizmente há hoje na organização um conjunto de bons quadros que podem ajudar a concretizar as decisões da 6.ª Assembleia. São quadros, muitos deles jovens, que têm vindo a destacar-se ao longo destes anos, na luta, na actividade partidária, nas estruturas unitárias dos trabalhadores hoje estão em condições garantir a direcção do Partido na região de Setúbal.
Reforço orgânico,
a primeira das prioridades
Foi a partir do conhecimento da realidade da Península de Setúbal e das necessidades do Partido para responder às questões que constantemente se lhe colocam, que as prioridades de trabalho a apresentar à Assembleia foram definidas.
O reforço orgânico do Partido nas empresas e locais de trabalho, particularmente em sectores de maior peso sob o ponto de vista empresarial e de número de trabalhadores, aparece naturalmente em primeiro lugar.
A seguir, tendo em conta a situação política nacional e internacional e a necessidade de armar os quadros para responderem à grande ofensiva ideológica contra o PCP e as forças mais consequentes na defesa dos direitos dos trabalhadores, é o reforço da formação ideológica que aparece como prioridade. São os próprios militantes - novos e antigos - a sentir essa necessidade e a proporem-se para acções de formação, dizem aqueles três dirigentes. A organização é que, às vezes, tem dificuldades em responder às solicitações.
Outra questão essencial para os comunistas de Setúbal é o reforço da luta em todas as suas vertentes. Até porque, diz Manuela Pinto Ângelo, secundada, pelos outros dois entrevistados, a intervenção dos comunistas é aqui indispensável e insubstituível.
O poder local democrático é outra das prioridades de trabalho apontadas, tendo em conta que o PCP continua a ser na região a força política com maior implantação e maior peso nas autarquias: tem o maior número de presidências de Câmara, de presidências de Juntas de Freguesia e Assembleias Municipais, de mandatos.
Por fim, há a questão do trabalho junto da juventude, considerado pela DORS também como linha essencial da sua acção.
Relativamente a todas estas prioridades, bem como à questão financeira ou às campanhas em curso no Partido - venda e divulgação da imprensa partidária, recrutamento, contacto com os militantes, realização de Assembleias - o documento apresenta objectivos quantificados, que «não resultam deste período de dois meses, de preparação da assembleia, mas da prática de um ano de discussão».
Em termos de balanço, estes dirigentes dizem que, se é verdade que há casos onde não se conseguiu ir tão longe como se gostaria, noutros casos, a organização tem tido uma resposta muito positiva.
Porque adere a juventude ao PCP
A Organização Regional de Setúbal mantém um elevado índice de recrutamento. A proposta de Resolução Política da 6.ª Assembleia faz um balanço desse recrutamento, concluindo que, nos dois primeiros meses deste ano, o número de jovens que aderiu ao Partido ultrapassa em muito a média dos quatro anos anteriores, com a particularidade de cerca de 50% das novas adesões se situarem no escalão até aos 30 anos.
Isto não está desligado do trabalho da JCP e com a JCP - muitos quadros do Partido fazem a sua formação na JCP - mas resulta, também, diz Manuela Pinto Ângelo, da preocupação de rejuvenescimento que tem existido na DORS.
Jorge Pires sublinha, por sua vez, o facto de não ser por acaso que os jovens aderem ao Partido. «É porque o PCP tem um projecto verdadeiramente revolucionário e muito atraente para as camadas jovens.» O problema é «chegarmos a eles, conversarmos, integrá-los na discussão do nosso projecto». E, nisso, reconhece, a JCP tem tido um papel muito importante, dela saindo muitos militantes.
Mas, para Jorge Pires, esta adesão tem muito que ver também com a actividade do Partido na própria região e com a preocupação da DORS com os problemas das camadas mais jovens.
«Com um trabalho persistente, organizado, direccionado no sentido de ajudar os jovens a compreender o processo em que estão envolvidos, que a luta não é só pelos problemas imediatos mas também pelos problemas mais gerais, por condições que levem à criação de uma nova sociedade, eles aderem.»
José Capucho entende, por seu lado, que a adesão da juventude aos ideias do PCP tem que ver com a intervenção importantíssima da JCP e com a actividade do Partido mas, também, com a intervenção dos comunistas nas várias áreas da vida regional e no movimento associativo, onde com as suas iniciativas culturais, desportivas e outras de carácter progressista acabam por tocar muitos milhares de jovens.
Uma outra questão com grande peso é o trabalho que as autarquias fazem para a juventude e o apoio que dão ao movimento juvenil, objectivamente potenciando a acção e intervenção da juventude num sentido de progressista.
Se em Almada existem umas dezenas de grupos de teatros de jovens, duas Casas da Juventude, um Fórum da Juventude, isso deve-se muito ao trabalho e apoio da autarquia. Se no Seixal há escolas de música de jovens nas colectividades, se milhares de jovens estão envolvidos no desporto e participam nas Seixalíadas, se existem as oficinas de juventude ou o Concelho Municipal da Juventude, é porque a autarquia tem uma política direccionada para as áreas do desporto e da cultura que toca muito os jovens, diz.
São espaços de participação que permite aos jovens aperceberem-se que os comunistas têm um projecto progressista, moderno que aponta para uma sociedade melhor, e assumirem como seus esses ideais, esses sentimentos democráticos.